Mais um (super)drama de Miller
- Sarah Bulhões
- 9 de mai. de 2015
- 2 min de leitura
“Foxcatcher – Uma história que chocou o mundo” narra a história do milionário John du Pont (Steve Carell), que monta um centro de treinamento de luta livre em sua propriedade para formar a Foxcatcher (equipe de lutadores olímpicos). Atraídos pelo salário, os irmãos Mark (Channing Tatum) e Dave Schultz (Mark Ruffalo) treinam no local para as Olimpíadas de Seul de 1988, mas a difícil convivência com du Pont torna a relação dos três bem conflituosa.
Antes mesmo de ler a sinopse, o filme me ganhou pelo elenco (que tanto gosto). Temos, então, três mosqueteiros, só que dessa vez, um pouco diferentes… Mark Ruffalo e principalmente Channing Tatum numa transformação física arrebatadora. Na pele de um lutador, desde os músculos, até o vocabulário e o jeito de andar mudaram. Mas Steve Carell é quem surpreende. Entre olhares obcecados e pausas dramáticas, não temos como negar uma de suas melhores atuações em todos os tempos (destaque aí para a maquiagem do protagonista).
Uma cinebiografia que conta um drama criminal de 1988 nos Estados Unidos e muito mais. Estamos acostumados a ver filmes com a temática de esporte sempre envolvendo ações positivas, ou girando em torno do próprio esporte ou, na maioria das vezes, na superação do protagonista ao longo do filme e isso é claro, inflamando o ego de uma nação.

A tonalidade fria que Bennett Miller conduz o roteiro, lento, tenso e preciso, tende agradar gregos e troianos. Tanto nos outros filmes, como “O homem que mudou o jogo” e “Capote”, fica evidente o patriotismo, mas aqui a fotografia faz jus à decadência de um país. Paisagens solitárias sejam na neve, dentro da mansão, no helicóptero, ou no centro de treinamento, juntamente com a trilha sonora de Rob Simonsen nos leva aos poucos a um final que carrega toda a tensão do filme inteiro, além de soar um falso nacionalismo. Alfinetando a alma do país, Miller nos dá a entender, com os pássaros e cavalos (spoiler), que famílias, como a própria dinastia Du Pont, movida sempre aos interesses próprios esvaziam a alma de uma nação. Tornam-se, portanto, uma alegoria, entre os EUA e sua queda.
“Foxcatcher – Uma história que chocou o mundo” é um filme de grandes atuações, derrotas devastadoras e de uma boa trama implícita, que investiga o psicológico ingênuo dos irmãos Schultz, ambos lutadores (Ruffalo e Tatum) e o psicológico frenético, ambicioso e problemático do multimilionário John Du Pont, apaixonado por luta livre e que carrega consigo uma obsessão por ‘criar’ campeões. Mas o filme não se pauta apenas por marcar uma relação conflituosa entre os três, também critica não só a cultura, mas a alma do típico americano, o ter pelo ser e por aí vai… USA, USA, USA.
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